O Novo filme de Sana Na N’hada, intitulado “Nome” sera lançado durante o Festival de Cannes

O novo filme de Sana Na N’hada sera lançado durante o Festival de Cannes, na programação da L’ACID (Associação do Cinema Independente para a sua Difusão). Intitulado “Nome” o longa foi produzido entre Angola, França, Guiné-Bissau e Portugal.


SINOPSE: Guiné-Bissau, 1969. Uma guerra violenta opõe o exército colonial português aos guerrilheiros do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. NOME deixa a sua aldeia e junta-se aos maquis. Ao fim de anos, regressa como um herói. Mas o júbilo depressa dará lugar à amargura e ao cinismo.

SOBRE « NOME »

Os olhos da criança estão fixos nos nossos. Sobre a sua cabeça pairam abutres ameaçadores. Aos seus pés, o seu pai morto. Atrás dele, uma aldeia observa-o em silêncio. Aqui, o tempo é medido pelo céu, um “céu dois anos mais novo quando a guerra começou”. Desde a sua primeira sequência, o poder de Nome é avassalador. É com um misto de grande beleza e ansiedade que Sana Na N’Hada reconstrói, quarenta anos depois, a epopeia de uma guerra de independência que ele próprio viveu. Da ficção, encontramos imagens de arquivo filmadas pelo jovem realizador. As temporalidades entrelaçam-se: entre os sonhos de infância, a gloriosa aventura da guerrilha, depois as ambiguidades dos seus heróis. O que resta da Revolução?

O filme maravilha-se com a sua crença no poder do cinema para abrir novos mundos. A Guiné está preparada para tanta felicidade? Esta questão colocada pelo espírito, a única entidade capaz de aparecer em todas as épocas deste fresco histórico, ficará sem resposta. Nome é um filme palimpsesto em que cada camada remete para um momento da vida dos seus heróis, da Guiné-Bissau e do maravilhoso Sana Na N’Hada.

Anton Balekdjian, Naruna Kaplan de Macedo e Marion Naccache, realizadores da ACID

ENTREVISTA COM Sana na n’hada

Qual é a origem do nome do filme Nome?

Sana na N’hada: Nome foge da sua aldeia por medo de ser desonrado. Depois de engravidar uma jovem, decide partir. É a cobardia que o leva à guerra. Sem ela, nunca se teria encontrado na guerrilha. Naquela altura, cada um de nós tinha uma razão para ir para a guerra. Alguns partiam devido aos seus compromissos revolucionários, outros para escapar à repressão colonial dos portugueses. Mas muitos eram como Nome e encontravam-se em situações que os obrigavam a fugir do seu ambiente. Outras pessoas não foram para a guerra, mas a guerra veio ter com elas. Para mim, foi em Bissau, no meio do sono, numa cabana a arder. Portanto, podias fugir e acabar na guerra por muitas razões, mas assim que decidia pegar numa arma, entrava na luta pela independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde e aceitava dar a sua vida, o seu corpo.

Nome é um homónimo. É uma forma de dizer que a guerra era um assunto de todos. É o nome de todos aqueles que se juntaram à guerrilha. Vínhamos de todo o país. Havia pescadores, criadores de gado, agricultores, etc. Era toda a sociedade que participava nesta luta. Mesmo que mais tarde, infelizmente, tenhamos abandonado o país a alguns empresários. Amílcar Cabral uniu-nos e deu um alcance nobre à luta. Ele acreditava na unidade. A sua morte marcou o fim da luta. Depois da Independência, veio o tempo das guerras civis. A agricultura, o sistema de saúde… tudo se desmoronou.

Porque escolheu a ficção para contar esta história que, em parte, viveu?

S.N.: Nome é a minha terceira longa-metragem. Antes disso, fiz sobretudo documentários. Nome faz parte de um projecto tríptico que eu queria fazer sobre a guerra. Xime (lançado em 1994) foi a primeira parte e centrou-se no destino de uma família guineense cujo ambiente foi virado do avesso com a chegada da guerra. O segundo filme deveria ser sobre o que os guineenses viveram durante o conflito, mas este projecto nunca se concretizou. Nome é uma espécie de síntese entre o que aconteceu durante e depois da guerra.

Eu tinha entre 15 e 16 anos quando fui recrutado como enfermeiro pelos guerrilheiros. A realidade do que foi a guerra nunca poderá ser captada, porque deu origem a tantas histórias, muitas vezes terríveis. A ficção permitiu-me reunir num só lugar muitas pessoas e acontecimentos diferentes. Raci é a minha infância, Cuta é como uma tia minha de quem se dizia que tinha clarividência. Quiti também sou eu durante a guerra, quando estava encarregado de transportar e cuidar dos soldados. Nome é um filme coral e, através destas personagens, consegui traçar um retrato da sociedade guineense. E nessa sociedade, várias coisas estão a acontecer ao mesmo tempo.

Em Nome, coabitam vários mundos e temporalidades guineenses: o campo e a cidade, a vida quotidiana e o tempo ancestral dos espíritos. Por um lado, a criança Raci que tenta restabelecer o equilíbrio da aldeia construindo um novo bombardeamento e, por outro lado, Nome que foge da mesma aldeia e sonha tornar-se um notável na cidade…

S.N.: Amílcar Cabral dizia: “Somos uma sociedade de mortos vivos”.

A guerra fez-nos saltar no tempo de uma forma psicologicamente vertiginosa. Na minha infância, estávamos mais próximos dos nossos costumes. A nossa sociedade era uma sociedade ancestral em que toda a gente acreditava que havia uma coisa lá em cima chamada Deus em muitas línguas, mas cá em baixo, na floresta ou nos arrozais, chamava-se o mundo dos espíritos. Por isso, as pessoas pediam a esses espíritos que interviessem para resolver os seus problemas. Hoje, mesmo que os guineenses se chamem cristãos, muçulmanos ou agnósticos, isso não significa que tenham deixado de ser animistas. Há um forte sincretismo entre nós. E quando chega a noite, não podemos negar de onde vimos. As pessoas têm práticas rituais ancestrais. Estas crenças constituem o solo da cultura guineense, que aceita facilmente a mistura.

O meu filme reflecte isso; esta ideia de coabitação faz parte do espírito guineense. Não precisamos de falar a mesma língua para nos casarmos. Fazemo-lo e depois aprendemos a língua um do outro. É um hábito muito antigo.

Além disso, consideramos que as pessoas não morrem. Para nós, os espíritos são almas penadas que vagueiam porque os vivos não foram capazes de realizar os rituais de luto ancestrais que lhes permitem partir em paz. No filme, Esprit é um espírito errante. Ele espera e continua a assombrar o mundo dos vivos. É um dever de cada guineense realizar a cerimónia de tchur para os seus mortos. Os mortos impõem-nos a sua voz

BIOGRAFIA

Sana Na N’Hada nasceu na Guiné-Bissau em 1950. Enviado a Cuba pelo líder revolucionário Amílcar Cabral com outros quatro aprendizes de cineasta, estudou no Instituto Cubano de Artes e Indústrias Cinematográficas. De regresso à Guiné, filmou a guerra da independência. O seu cinema será então construído no vaivém entre a memória da ocupação portuguesa, a luta pela independência e uma meditação sobre a destruição das sociedades tradicionais da Guiné-Bissau – e com elas, de um modelo ecológico onde o homem aceita os poderes de uma natureza à qual sabe pertencer. É o seu regresso a Cannes após 30 anos, tendo o seu filme Xime sido apresentado na Selecção Oficial de Un Certain Regard em 1994!

FILMOGRAFIA

1976 : O retorno de Cabral / court métrage co-réalisé avec Flora Gomes 1976 : Anos no assa luta / court métrage coréalisé avec Flora Gomes 1978 : Les jours d’Ancono (court-métrage)

1984 : Fanado, un documentaire de 26’.

1994 : Xime (Long-métrage / fiction) – Sélection Officielle / Un Certain Regard / Cannes 1994

2005 : Nossa Guiné (documentaire, 52 min) 2005 : Bissau d’Isabel (documentaire, 52 min) 2014 : Kadjike (long-métrage / fiction)

2015 : Os escultores de espíritos (documentaire)

FICHA ARTISTICA

NOME

UM FILME DE

SANA NA N’HADA

COM

NOME I MARCELINO ANTÓNIO INGIRA

NAMBÚ I BINETE UNDONQUE

CUTA I MARTA DABO QUITI I HELENA SANCA I PAULO INTCHAMA

ESPÍRITO I ABUBACAR BANÓRA

DJALAM I NINHA LÚCIA LOPES

SEM PESCOÇO I JORGE QUINTINO BIAGUÊ

TOGARA I MÁRIO PAULO MENDES

TUÉ I VLADMIR MÁRIO VIEIRA

BUINHI-DEUSDADA I OKSANA ISABEL

DJILA I ERNESTO NAMBERA

RACI I RIQUELME BIGA

RACI 17 ANOS / ANS I BACARI DABO

SOMPY I MAMINHA BRANDÃO

DAM I MINÉSIO N’CADA

ADÁ I JORGINA BARAI

TCHENA I ADELSIO M. BIAGUÊ CRIANÇA / L’ENFANT I PAPA LOPES AUSENDA I CADI SANHÁ

FISCAL ALFÂNDEGA I JOÃO CARLOS CALON

ENTERRADOR / CROQUE-MORT I JUSTINO A. M. NETO

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